Programas e políticas de nutrição para mulheres e crianças: Comentários sobre Black , Reifsnider e Devaney


Center for Human Nutrition, Johns Hopkins University, Bloomberg School of Public Health, EUA
(Inglês). Tradução: outubro 2011

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Introdução

Estes três artigos destacam questões clínicas, programáticas e políticas relevantes para o provimento de serviços que promovam saúde e nutrição otimizadas em meio a mulheres e crianças. O primeiro artigo, de Black,1 levanta questões relativas à promoção de comportamentos alimentares otimizados em meio a crianças pequenas com o objetivo de prevenir a nutrição inadequada (subnutrição ou nutrição excessiva) e o desenvolvimento de hábitos saudáveis de alimentação para toda a vida. O segundo artigo, de Reifsnider,2 caracteriza tendências do nível macro e influências intergeracionais sobre a saúde e a nutrição da mãe e da criança, e defende uma abordagem para os programas dessa área que possa ser utilizada ao longo da vida. O terceiro artigo, de Devaney,3 descreve o projeto do maior programa norte-americano de nutrição para mulheres e crianças e o conhecimento atual a respeito de sua eficácia no aprimoramento de resultados. Embora muito diferentes em termos de ênfase e estilo, os artigos focalizam diversos pontos críticos, conforme apresentado a seguir.

Do que se trata

Os artigos oferecem um argumento em favor de programas integrados para mães e filhos e da ampliação desses programas e das políticas rumo a uma abordagem que possa ser utilizada ao longo da vida. Apesar de inúmeras conquistas em termos de programas e políticas, mulheres e crianças continuam sendo os membros mais vulneráveis da sociedade, e a necessidade de provimento especial provavelmente persistirá ainda por muitos anos. Diversas lições importantes foram aprendidas com as principais experiências programáticas. Em primeiro lugar, é necessário oferecer atenção continuada à saúde e à nutrição da mãe e da criança, uma vez que ambas estão inseparavelmente ligadas; isto significa prover abordagens integradas ao atendimento da gestante, do bebê, da mãe lactante, da criança em crescimento e da mulher em fases  intergestacionais. Em segundo lugar, o que acontece no início da vida pode fazer diferença ao longo de toda a vida, seja quanto à subnutrição materna – que pode resultar em crescimento fetal prejudicado e incidência subsequente de diabetes e de doença cardiovascular na vida adulta –, ou quanto à forma pela qual experiências iniciais de alimentação, regulação do apetite e padrões dietéticos afetam o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis e a saúde adulta, e são transmitidos para a geração seguinte. Em terceiro lugar, caso não adotemos uma abordagem abrangente e integrada para a avaliação das ações, programas de apoio e promoção de nutrição e saúde da mãe e da criança continuarão subestimados e subfinanciados.  

Problemas

Tendo em mente esse contexto, os artigos salientam a necessidade de pesquisas consistentes e abrangentes nessa área. O artigo de Black examina de que maneira o comportamento alimentar afeta o consumo dietético e os problemas de saúde, mas oferece poucas referências. Evidentemente, essa limitação salienta a natureza emergente dessa área, a necessidade de pesquisas ativas para descrever as consequências de saúde pública associadas ao nosso insucesso (até o momento) em considerar essas questões nos programas de nutrição infantil, e os pontos principais a serem mudados nessa área que promoverão alimentação e estilo de vida saudáveis entre os membros mais jovens da sociedade. No entanto, embora os programas devam focar as crianças, não devem desconsiderar o papel integral desempenhado pelas mães, nem esquecer que melhorias em padrões dietéticos e em comportamentos relativos à saúde da mulher podem ser transferidas para além dos beneficiários imediatos dos programas. Entretanto, essas conexões não estão bem estabelecidas, e salientam um segundo contexto importante da pesquisa sobre avaliação de programas. O exemplo no artigo de Devaney sobre a complexidade da avaliação criativa de programas constitui um argumento em favor do desenvolvimento de melhores métodos e maior financiamento para a avaliação adequada de programas complexos e abrangentes, como o programa norte-americano WIC (Women, Infants and Children). 

Contexto de pesquisa

Fica claro nestes artigos que o contexto está maduro para novas pesquisas na área. Há necessidade urgente de pesquisas sobre o desenvolvimento de padrões alimentares saudáveis e sobre as influências familiares e ambientais sobre esse desenvolvimento, incluindo fatores culturais e transgeracionais. Há também uma necessidade relacionada de identificar e avaliar intervenções culturalmente adequadas e aceitáveis para promover comportamento dietético e estilo de vida saudáveis, e de desenvolvimento de programas e políticas em torno de abordagens bem-sucedidas.  

Questões-chave de pesquisa

As questões-chave de pesquisa incluem:

  1. Quais são os principais fatores pessoais, familiares, ambientais e sociais que afetam negativamente os padrões dietéticos e o bem-estar nutricional de mulheres e crianças?
  2. Quais são os meios mais eficazes para promover padrões alimentares e nutricionais saudáveis em meio a crianças e famílias?
  3. De que forma podemos construir, manter e avaliar de maneira abrangente complexos programas de saúde e nutrição da mãe e da criança, “ao longo da vida” ou integrados?
  4. De que forma podemos ampliar modelos que se mostram bem-sucedidos quando executados como pilotos ou como programas de nutrição em pequena escala? 
  5. De que forma podemos dar “voz” mais ativa aos formuladores de políticas em relação ao sucesso de programas eficazes de nutrição?    

Conclusões

As políticas de Saúde e Nutrição Materna e Infantil (SMI) estão passando atualmente por uma transformação e uma renovação abrangentes. Embora muitos já tenham reconhecido a necessidade de abordagens para utilização ao longo da vida, as pesquisas recentes sobre origens de doenças adultas na infância atraiu a atenção e o apoio de novos parceiros. É chegado o momento de trabalhar em conjunto para construir e manter sistematicamente programas eficazes, que cumpram uma agenda tradicional de SMI que impeça a subnutrição e doenças associadas e que constituirá uma “nova agenda” de prevenção de doenças crônicas, entre as quais a obesidade. Estes artigos identificam áreas nas quais são necessários progressos para promover padrões dietéticos e de alimentação no presente e para as futuras gerações, com foco nas crianças e nas famílias.

Implicações para políticas e serviços

A abordagem ao longo da vida para a saúde materno-infantil tem implicações para programas e serviços além daqueles que são oferecidos para crianças. Programas integrados para mulheres e crianças são exatamente isso: integrados. Há barreiras tradicionais entre as áreas da medicina e outros provedores clínicos de cuidados que precisam ser derrubadas. A promoção do aleitamento materno é um desses casos: a promoção e o apoio adequado ao aleitamento materno podem exigir cooperação e comprometimento de múltiplas especialidades médicas, entre as quais obstetrícia, neonatologia, pediatria e medicina familiar. Uma abordagem para toda a vida requer a combinação de considerações de curto e de longo prazo quanto ao que é melhor ou ótimo para o feto, para a criança ou para a família. Essa abordagem seria essencialmente um casamento entre formuladores de políticas de SMI e de doenças crônicas. Embora complexo e difícil de articular, esse casamento será necessário para que possamos realizar o objetivo de nutrição e saúde otimizadas para crianças e famílias no curto e no longo prazo.

Referências

  1. Black MM. Comment aider les enfants à acquérir des habitudes alimentaires saines. In: Tremblay RE, Barr RG, Peters RDeV, eds. Encyclopédie sur le développement des jeunes enfants [en ligne]. Montréal, Québec: Centre d’excellence pour le développement des jeunes enfants; 2003:1-5. Disponible sur le site: http://www.enfant-encyclopedie.com/documents/BlackFRxp.pdf. Page consultée le 5 août 2003.
  2. Reifsnider E. Des pratiques et des politiques nutritionnelles efficaces à l'intention des femmes enceintes et des mères de jeunes enfants. Ed rev. In: Tremblay RE, Barr RG, Peters RDeV, eds. Encyclopédie sur le développement des jeunes enfants [sur Internet]. Montréal, Québec: Centre d’excellence pour le développement des jeunes enfants; 2006:1-9. Disponible sur le site: http://www.enfant-encyclopedie.com/documents/ReifsniderFRxp_rev.pdf. Page consultée le 26 octobre 2007.
  3. Devaney BL. Un programme de services destiné à améliorer la nutrition des femmes enceintes, des nourrissons et des jeunes enfants. In: Tremblay RE, Barr RG, Peters RDeV, eds. Encyclopédie sur le développement des jeunes enfants [en ligne]. Montréal, Québec: Centre d’excellence pour le développement des jeunes enfants; 2003:1-9. Disponible sur le site: http://www.enfant-encyclopedie.com/documents/DevaneyFRxp.pdf. Page consultée le 5 août 2003.

Para citar este artigo:

Caulfield LE. Programas e políticas de nutrição para mulheres e crianças: Comentários sobre Black , Reifsnider e Devaney. Em: Tremblay RE, Boivin M, Peters RDeV, eds. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line]. https://www.enciclopedia-crianca.com/nutricao-na-gravidez/segundo-especialistas/programas-e-politicas-de-nutricao-para-mulheres-e. Publicado: Setembro 2003 (Inglês). Consultado em 28 de março de 2024.

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