Este tópico proporciona uma melhor compreensão sobre a associação negativa do cigarro na saúde da mãe e da criança, tanto durante como após a gravidez, além de refletir sobre as estratégias de intervenção e de prevenção que demonstraram bons resultados junto às mulheres grávidas.

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Tabagismo e gravidez

Uso de tabaco durante a gravidez: começando bem com informações adequadas
Tabagismo e gravidez : Uso de tabaco durante a gravidez: começando bem com informações adequadas
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Síntese

Tema financiado por:

CONASS - Conselho Nacional de Secretários de Saúde - Brasil

Qual é sua importância?

No Canadá, a década de 1990 foi marcada por um aumento da conscientização pública sobre os efeitos maléficos do tabaco sobre a saúde e pelo surgimento de estudos e leis sobre o uso e o preço dos cigarros. 

O Relatório sobre Tabagismo no Canadá revela que, de 1985 a 2001, a prevalência de fumantes diários de ambos os sexos e de todas as faixas etárias diminuiu significativamente: a população de fumantes de 15 anos ou mais diminuiu de 35,1% para 21,7% em relação à população total. 

Apesar disto, os fumantes ainda são predominantemente jovens, em seus primeiros anos de vida reprodutiva. Este fato está longe de ser trivial, uma vez que a exposição crônica à fumaça de cigarros durante o período fetal aumenta significativamente o risco de problemas de saúde, físicos e mentais.

De fato, se por um lado os efeitos devastadores do tabaco sobre a saúde de adultos são bem conhecidos, seus efeitos sobre crianças estão se mostrando preocupantes, especialmente quando a exposição à fumaça do tabaco começa durante o período fetal.   

Resultados do National Longitudinal Study on Children and Youth (NLSCY- Estudo Longitudinal Nacional sobre Crianças e Jovens)2 indicam que 23,3% das mulheres canadenses fumam durante a gravidez. Destas mulheres, 84% fumam durante toda a gravidez. A distribuição das taxas de uso cotidiano de tabaco entre mulheres grávidas é a seguinte: 65% fumam entre um e dez cigarros por dia; 34% fumam entre 11 e 25 cigarros; 1% fuma mais de 25 cigarros. 

Uma pesquisa do CEECDa sobre percepções do uso de tabaco entre mulheres grávidas mostra que a população canadense não está consciente do número de mulheres grávidas que fumam. Apesar de haver alguma consciência pública a respeito dos efeitos maléficos do tabagismo sobre o peso de neonatos, a maioria das pessoas ainda parece desconsiderar as consequências em longo prazo da exposição do feto à fumaça do tabaco sobre a saúde física e mental das crianças.  

O que sabemos? 

A exposição pré-natal ao tabaco é reconhecidamente um desafio sério à saúde das crianças que pode ser prevenido. Pesquisas nacionais realizadas nas últimas décadas na América do Norte descobriram que entre 20% e 25% das mulheres fumavam cigarros durante a gravidez. O número de crianças expostas à fumaça do tabaco pelo tabagismo materno antes de nascer tem repercussões amplas. 

As consequências psicossociais associadas ao tabagismo materno pré-natal para as crianças podem ser numerosas e incluem:

  • Orientação e responsividade auditiva reduzidas
  • Aumento de tremores e sobressaltos em recém-nascidos
  • Resultados inferiores em testes de desempenho cognitivo geral nos anos pré-escolares
  • Problemas psicológicos e de comportamento antes do ingresso na escola
  • Baixos resultados no domínio verbal durante os anos escolares
  • Hiperatividade, desatenção e impulsividade na escola
  • Problemas de comportamento na escola
  • Distúrbios de conduta e abuso de substâncias na adolescência. 

evidências consistentes que sugerem que uma maior exposição intrauterina à nicotina está associada a taxas mais elevadas de problemas de conduta e hiperatividade na infância e na adolescência, assim como a taxas elevadas de crime juvenil e adulto. Entretanto, a exposição pré-natal ao tabaco não parece estar associada a uma elevação de risco de problemas emocionais como a depressão em crianças. O gênero também parece mediar os efeitos em longo prazo do tabagismo na gravidez, uma vez que os meninos tendem a manifestar distúrbios de conduta e as meninas tendem ao abuso de substâncias.

Além disso, pesquisas com animais sugerem que o tabagismo esteja relacionado a mudanças tanto estruturais como funcionais no cérebro do feto. Estudos com animais mostram que a nicotina e o monóxido de carbono podem limitar a transmissão de oxigênio para o feto, resultando em problemas de cognição e memória. Em humanos, há evidências de mudanças neurológicas, emocionais e comportamentais.

O desafio do estudo dos efeitos do tabagismo durante a gravidez reside no fato de que as mulheres que fumam durante a gravidez tendem a diferir significativamente das não fumantes quanto a status socioeconômico, saúde mental, características de personalidade, estilos de educar os filhos e exposição ao estresse. Todos estes fatores contribuem para confundir os resultados e dificultar o estabelecimento de conexões causais. Estudos com animais são, portanto, muito importantes para a compreensão de mecanismos biológicos diferenciados. Entretanto, estudos transversais e longitudinais realizados com amostras clínicas e da comunidade mostram fortes associações entre o tabagismo na gravidez e problemas em longo prazo relacionados ao desenvolvimento psicossocial de crianças após realizado o controle de uma grande variedade de fatores individuais, familiares e sociais. 

O que pode ser feito? 

Já existem evidências convincentes para motivar todos os fumantes a parar de fumar. Mas grávidas fumantes deveriam ser especialmente motivadas, dados os riscos que seu tabagismo representa para sua gravidez e seus filhos. Sabemos que, no período da vida em que os filhos são criados, os pais – e mais especificamente a mulher grávida – são cada vez mais receptivos a intervenções para abandonar o tabagismo, devido ao aumento do contato com os sistemas de saúde e ambientes nos quais o abandono do tabagismo pode ser encorajado. São estes, portanto, os locais óbvios para que se promova a conscientização sobre a relação entre o tabagismo e o risco ao desenvolvimento fetal/infantil. 

Ainda que a literatura sobre o tabaco forneça um amplo panorama para o tratamento de tabagismo, as mulheres gestantes podem carecer de intervenções específicas, além de literatura de autoajuda focalizada em questões relativas à gravidez. A pesquisa demonstra que parar de fumar no primeiro trimestre da gravidez parece trazer os maiores benefícios, mas os efeitos positivos de parar de fumar em qualquer momento durante a gravidez também são inegáveis. Devemos, portanto, além de ajudar as mulheres gestantes a se livrar do cigarro na sua primeira consulta do pré-natal, ajudá-las a manter-se longe do cigarro por toda a gravidez.

Várias formas de intervenção já foram utilizadas para motivar os pais a deixar de fumar durante e após a gravidez: 

  • Aconselhamento prático (incluindo treinamento para identificação e resolução de problemas, relembrar tentativas anteriores de abstenção, antecipar situações desencadeadoras, desafios para a abstenção)
  • Aconselhamento com a abordagem dos “Cinco Passos” 
  • Impressos de autoajuda
  • Aconselhamento por telefone
  • Apoio social fora das consultas, apoiando os esforços do parceiro para a abstenção e dispondo do apoio de outros membros da família, de amigos e colegas de trabalho.

O problema persistente na investigação nesta área continua a ser a identificação dos fumantes, especialmente as gestantes. A pressão social para que não se fume durante a gravidez pode inibir a gestante quanto a revelar sua condição de fumante. Estudos demonstram as altas taxas de dissimulação (entre 28% e 35%) quando mulheres são inquiridas sobre seu tabagismo e posteriormente submetidas a testes bioquímicos. 

De fato, dentre uma proporção considerável de mulheres que param de fumar durante a gravidez, as taxas de recidiva pós-parto são decepcionantemente altas. Frequentemente, as causas da recidiva podem ser encontradas na própria casa da gestante. De fato, a presença de outros fumantes (um parceiro íntimo ou outros 

membros da família) na residência demonstrou aumentar significativamente a probabilidade das fumantes fumarem durante a gravidez e após dar a luz.  

Felizmente, há amplas evidências que apoiam a efetividade dos programas de tratamento para grávidas e pais fumantes. Aproximadamente 35% das mulheres grávidas que param de fumar mantêm-se longe do cigarro, melhorando sua própria saúde e a saúde de suas crianças e dos demais membros da família. 

Referências

  1. Gilmore J. Report on Smoking in Canada 1985-2001. Ottawa, Ontario: Statistics Canada, Health Statistics Division, Minister of Industry; 2001. 
  2. Statistics Canada. National Longitudinal Study on Children and Youth, 1994-1995 Data. Ottawa, Ontario: Statistics Canada.
Nota
aNT: CEECD – Center of Excellence for Early Childhood Development (Centro de excelência pelo desenvolvimento infantil inicial). 

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Leitura adicional

A que ponto a exposição à fumaça de cigarro é problemática para o feto?

Todos os anos, 600 mil crianças na América do Norte são expostas à fumaça de cigarro antes do nascimento. Os efeitos nefastos dessa exposição ao tabagismo incluem um risco maior de aborto espontâneo, nascimento prematuro, síndrome da morte súbita do bebê, baixo peso ou tamanho menor do bebê no nascimento, problemas respiratórios, obesidade, assim como uma associação a problemas de comportamento (por exemplo, oposicionalidade, problemas de conduta e impulsividade). 

Embora muitas mulheres cessem de fumar quando descobrem que estão grávidas,  aproximadamente 50% delas não interrompem essa prática. Muitas delas são mães adolescentes ou de baixa renda. Mesmo que elas parem de fumar durante a gravidez, muitas mães recomeçam a fazê-lo após o nascimento de seu filho, o que leva a problemas de saúde posteriores para a mãe e a criança. 

É claro que serão necessários mais programas de sensibilização e de abandono do tabagismo para as jovens mães que fumam, especialmente aquelas em situação mais vulnerável