É importante compreender os fatores biológicos e ambientais que podem influenciar no sucesso escolar, e também fazer isso desde a concepção.  É também importante documentar a incidência dos programas pré-escolares sobre o desempenho acadêmico eventual de uma criança e as melhores práticas para favorecer o sucesso escolar e a obtenção de diplomas. Este tema aborda todos esses aspectos.

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Síntese

Tema financiado por:

CONASS - Conselho Nacional de Secretários de Saúde - Brasil

Qual é sua importância?

Há alguns anos, as economias dos países desenvolvidos vêm se tornando mais dependentes de uma força de trabalho instruída. Estudantes que não conseguem concluir o ensino médio encontrarão mais dificuldade para garantir emprego significativo que possibilite bem-estar social. Indivíduos que abandonam os estudos são mais propensos a fazer uso de serviços de assistência social e do seguro desemprego e apresentam mais problemas de saúde física e mental. Também são mais propensos a envolver-se em atividades ilegais e abuso de drogas.

Estatísticas mostram que 11,4% dos jovens canadenses abandonam a escola prematuramente, sendo que a proporção de homens supera a de mulheres (14,7% versus 9,2%). Aproximadamente um em cada cinco jovens ainda não concluiu o ensino médio aos 20 anos de idade e a proporção de homens também supera a de mulheres em dois para um. Em termos econômicos, um único indivíduo que abandona o ensino médio gera um custo ao longo da vida que varia de US$243 mil a US$388 mil.

O que sabemos?

Pesquisas sugerem que os caminhos para o sucesso acadêmico e a conclusão escolar têm início na concepção e podem ser atribuídos a diferentes fatores, tanto biológicos como ambientais. Esses fatores seguem duas perspectivas diferentes:

  • Fatores individuais, tais como experiências, atitudes, comportamentos, habilidades de linguagem e de alfabetização, deficits de atenção e dificuldades para reconhecer e utilizar os sons de palavras faladas antes dos 6 anos de idade, são importantes variáveis para a predição de dificuldades acadêmicas e, em última análise, da saída prematura da escola,  da agressão e do baixo nível de autorregulação – todos associados à evasão escolar;
  • Fatores contextuais presentes nas famílias dos estudantes (características demográficas, pobreza, famílias uniparentais com baixos níveis educacionais ou que pertencem a minorias étnicas), nas escolas (educação infantil, qualidade da escola), nas comunidades (utilização de um segundo idioma) e em meio aos colegas.

Sabemos que estudantes que abandonam a escola:

  • tendem a ser menos competentes em termos intelectuais e a receber notas e escores mais baixos em testes de desempenho educacional;
  • normalmente são provenientes de famílias uniparentais de baixa renda e seus pais estão menos envolvidos em sua educação. Embora as taxas de evasão sejam mais altas em meio a famílias uniparentais e de baixa renda, a maioria dos indivíduos que abandonam a escola vem de famílias biparentais de renda média;
  • têm dificuldade para estabelecer relacionamentos com adultos e colegas (competência socioemocional). Crianças rejeitadas, que não têm amigos ou que têm atitudes agressivas, correm risco de ter baixo desempenho acadêmico, repetência, absenteísmo e indolência. Relacionamentos positivos com colegas podem ser um fator de proteção, apoiando a busca acadêmica da criança. A relação entre competência socioemocional e competência acadêmica pode ser recíproca
  • não conseguem desenvolver um sentido de pertencimento ao meio escolar.

Especialistas eminentes identificam diversos resultados comprovados em relação à participação em bons programas de educação infantil ou para a primeira infância e o sucesso escolar subsequente. Os resultados de tais programas têm longo alcance e os efeitos de alguns deles persistem até a idade adulta. Os participantes desses programas:

  • obtêm os maiores benefícios, principalmente crianças de famílias de baixa renda;
  • são mais propensos a concluir o ensino médio e a frequentar o ensino superior;
  • mostram maior motivação para aprender e maior prontidão escolar ao ingressar na escola;
  • registram escores mais altos em testes de QI, de desempenho, leitura e matemática; 
  • registram taxas mais baixas de evasão em comparação com indivíduos com características semelhantes que não freqüentaram esses programas; e
  • obtêm benefícios dos efeitos duradouros de níveis educacionais mais altos e de rendas e poupanças mais elevadas ao longo da vida. 

O que pode ser feito?

Programas de Educação na Primeira Infância (EPI) são programas organizados supervisionados, com objetivos sociais e educacionais para crianças (até a idade de ingresso no ensino fundamental), durante a ausência temporária de seus pais. A EPI abrange inúmeros programas, os quais variam em relação ao número de horas de funcionamento, à idade das crianças e ao status socioeconômico (SSE) das famílias. Exemplos incluem educação infantil em meio período, instituições de atendimento à criança, programas de intervenção precoce e creches familiares. Há pesquisas em número suficiente para apoiar a expansão de programas de educação infantil e para a primeira infância.

Os programas mais eficazes são aqueles que têm início nos primeiros meses de vida da criança, são mais intensivos, com maior duração, são mais abrangentes e individualizados, oferecem boa qualidade e têm continuidade de alguma forma nos primeiros anos do ensino fundamental. Programas de educação e cuidados para a primeira infância cujas intervenções visam a criança diretamente, que promovem relações estreitas com os pais, estimulam condutas parentais eficazes e promovem as habilidades cognitivas, de linguagem e de alfabetização da criança são os mais eficazes e os que produzem a melhor relação custo-benefício. 

As pesquisas vêm demonstrando que a qualidade do programa faz diferença no desenvolvimento cognitivo. A qualidade estrutural inclui tamanho do grupo, quociente crianças/equipe, qualificação dos professores, salário das equipes e baixa rotatividade de professores. A qualidade do processo envolve relacionamentos e interações sociais no contexto da primeira infância. 

  • Devem ser disponibilizados recursos para garantir que crianças pobres tenham acesso ao atendimento de boa qualidade. Os serviços devem ser adaptados às características culturais e socioeconômicas das comunidades
  • Os programas devem fornecer aos pais serviços que possam aprimorar suas habilidades de práticas parentais, estratégias de comunicação com os filhos, e a eficácia para criar seus filhos e interagir com instituições educacionais;
  • Além de programas de capacitação parental, outras intervenções serão necessárias para prevenir dificuldades iniciais das crianças que possam resultar em fracasso e abandono prematuro no ensino médio. Essas intervenções incluem programas para atendimento da criança após o horário de aulas, programas de férias e programas desenvolvidos na própria escola. Muitos programas promissores foram ou vêm sendo realizados com crianças na pré-escola e nos primeiros anos do ensino fundamental. É extremamente importante que os serviços tenham continuidade entre os períodos pré-escolar e escolar. 

Para prevenir dificuldades iniciais que possam resultar em fracasso escolar e abandono precoce no ensino médio, algumas ações foram propostas em complementação aos programas de educação infantil: 

  • É preciso estudar os efeitos de longo prazo dos programas de educação infantil sobre a conclusão escolar;
  • É essencial a avaliação dos atuais programas de educação infantil, tendo em vista que programas ineficazes podem ter impacto negativo sobre o desempenho acadêmico da criança;
  • É necessário desenvolver um número maior de pesquisas para determinar a idade ideal para iniciar a participação no programa, assim como sua duração.
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Leitura adicional

O que pode colocar obstáculo ao sucesso escolar das crianças pequenas?

A trajetória do sucesso escolar começa quando as crianças são concebidas e é influenciada pela genética e pelo ambiente. Desde a idade pré-escolar podemos prever quais serão as crianças que terão problemas de comportamento e de aprendizagem na escola primária conforme suas características individuais, seus pais e a dinâmica familiar. 

Os elementos que permitem prever os problemas escolares são:

  • problemas de linguagem, de leitura e de escrita, incluindo as dificuldades em reconhecer e utilizar os sons emitidos antes da idade de 6 anos; 
  • déficits de atenção;
  • dificuldades sociais (por exemplo, saber se entender com seus pares); 
  • dificuldades emocionais (por exemplo, controle das emoções negativas, agressividade e falta de autocontrole);
  • ambiente familiar em situação de risco (por exemplo, pobreza, monoparentalidade) e más práticas parentais). 

Alguns desses fatores de risco se combinam de forma interativa ou aditiva para prognosticar as dificuldades escolares. Entretanto, alguns deles podem ser eliminados ou atenuados por boas habilidades sociais, estreitas relações com seus pares e os adultos, assim como através de uma disciplina positiva, mas firme.

Publicações

Conclusão escolar e sucesso acadêmico: o impacto da competência sociomocional precoce

Associações entre primeira infância, sucesso escolar e conclusão do ensino médio

Conclusão escolar e desempenho escolar como resultados do desenvolvimento na primeira infância. Comentários sobre Vitaro e Hymel e Ford

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