Esse tema esclarece sobre os dados mais recentes sobre a vacinação, os possíveis efeitos secundários, os mitos e os medos, as medidas implantadas para garantir a segurança das vacinas e a incidência da vacinação sobre as doenças infantis no mundo.

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Síntese

Tema financiado por:

CONASS - Conselho Nacional de Secretários de Saúde - Brasil

Qual é sua importância? 

A vacinação é  um serviço clínico preventivo recomendado a praticamente todas as crianças do mundo. A administração adequada de uma vacina em dose única ou em uma série de doses geralmente confere uma imunização duradoura. As vacinas interrompem a circulação da bactéria ou do vírus que causa a doença, o que significa proteção não apenas para a criança vacinada, mas também, potencialmente, para indivíduos que não foram vacinados.

Historicamente, as doenças infecciosas eram uma fonte significativa de doenças infantis, resultando muitas vezes em deficiência e até mesmo em morte. Por essa razão, os programas de vacinação para a primeira infância constituem uma das histórias de maior sucesso na saúde pública do século XX. Por meio da vacinação, a varíola e a poliomielite foram erradicadas no Ocidente e os casos de sarampo foram reduzidos em mais de 99%. No Canadá, os programas de vacinação reduziram a frequência das doenças visadas (difteria, tétano, coqueluche, caxumba, rubéola etc.) em mais de 90%.

O que sabemos?

Nos Estados Unidos e no Canadá, as crianças vêm sendo protegidas por programas de rotina contra 12 doenças que podem ser evitadas pelas vacinas: difteria, tétano,  coqueluche, poliomielite, hepatite B, doença por haemophilus influenzae invasivo – uma doença invasiva que pode provocar uma ou diversas síndromes clínicas, entre as quais meningite ou pneumonia –, doenças invasivas causadas por pneumococo, sarampo, caxumba, rubéola, catapora e gripe.

De modo geral, todas essas doenças são graves e podem ser fatais, ao passo que os  efeitos adversos das vacinas, quando se manifestam, são geralmente mais amenos, e podem consistir em desconforto localizado, inflamação no local da injeção e febre baixa ou vermelhidão. Para tirar proveito dos benefícios dessas vacinas, as crianças devem ser vacinadas no momento certo. No Canadá, o Comitê Consultivo Nacional sobre Vacinação recomenda que todas as crianças sejam vacinadas aos 2, 4, 6 e 18 meses de vida.

Infelizmente, os programas de vacinação são vítimas de seu próprio sucesso. À medida que as doenças evitadas pelas vacinas tornam-se mais raras, a população passa a temê-las cada vez menos. Os raros efeitos adversos das vacinas tornam-se mais frequentes em comparação com as doenças e suas manifestações agora são menos comuns.  Consequentemente, os pais passam a temer as vacinas administradas a crianças sadias mais do que as próprias doenças que elas previnem, que não chegaram a conhecer.

Neste momento, uma das alegações mais controversas é a possível associação entre a vacinação infantil e o autismo. Duas hipóteses foram colocadas: uma relação entre a vacina Tríplice Viral (contra rubéola, sarampo e caxumba) e o autismo; e a exposição de bebês a quantidades excessivas de tiomersal – um agente  químico à base de mercúrio utilizado para estabilizar a vacina.

Ao longo dos últimos anos, diversos estudos examinaram a hipótese da relação entre a vacina Tríplice Viral e autismo. Até hoje, nenhum estudo epidemiológico encontrou qualquer associação entre autismo e a vacina Tríplice Viral. Recentemente, o Instituto de Medicina fez uma revisão dos estudos ligados a essa hipótese e concluiu que as evidências encontradas favoreciam sua rejeição. Além disso, são realizadas regularmente avaliações sistemáticas da segurança das vacinas e não foi assinalado nenhum caso de autismo como possível efeito adverso da vacina contra o sarampo ou da vacina Tríplice Viral.

O acompanhamento de crianças expostas a doses importantes de metil-mercúrio não mostrou nenhum aumento na incidência do autismo. (Cabe observar que o tiomersal nunca foi utilizado na vacina Tríplice Viral e que atualmente a maioria das vacinas é formulada sem tiomersal). 

Diversos estudos epidemiológicos testaram essas hipóteses e demonstraram que o aumento da incidência do autismo e dos problemas a ele ligados – transtornos globais do desenvolvimento, também denominados transtornos invasivos do desenvolvimento – podia ser atribuído a mudanças no diagnóstico, a modificações de critérios de diagnóstico, ao aperfeiçoamento da detecção do autismo nas populações e a maior sensibilização dos profissionais e do público com relação a esse problema. Uma vez que os dados epidemiológicos atuais indicam que a vacina Tríplice Viral não está ligada a um aumento do autismo na população, considera-se que o risco neurológico e os demais riscos graves conhecidos dessas doenças evitáveis são significativamente mais importantes do que o risco representado pela vacina.

O que pode ser feito?  

Educação

Os pais e as pessoas responsáveis pela vacinação devem estar conscientes da importância de manter em dia a vacinação de seus filhos e de seus pacientes. No entanto, o próprio sucesso da vacinação infantil envolve um desafio: comunicar aos pais a importância de proteger seus filhos, ainda que as doenças visadas pelas vacinas já não se manifestem mais. Consequentemente, é preciso que os programas de vacinação tenham um caráter mais educativo e tranquilizem os pais quanto às doenças e às vacinas, fornecendo-lhes informações baseadas em evidências que lhes permitam tomar decisões conscientes sobre a vacinação de seus filhos.

A pesquisa demonstrou que alguns fatores podem melhorar as taxas de vacinação. Esses fatores incluem lembretes em momentos específicos, material educativo de qualidade destinado aos pais, unidades de saúde abertas após os horários habituais e aos finais de semana, monitoramento da vacinação, administração de diversas vacinas múltiplas em uma mesma consulta, fornecimento constante de vacinas, educação multidisciplinar para os profissionais envolvidos com a vacinação e eliminação de obstáculos financeiros à vacinação. As intervenções baseadas em evidências variam de sistemas simples de lembretes até atividades de melhoria de qualidade realizadas pelos profissionais que realizam a vacinação. Atualmente os pais também têm acesso a informações em livros e sites dedicados à educação sobre vacinação e sobre doenças que podem ser evitadas pelas vacinas.

No Reino Unido, são realizadas pesquisas rotineiras para verificar a atitude dos pais e dos profissionais da saúde. Além disso, todos os materiais de promoção da vacinação são submetidos previamente a inúmeros testes e seu impacto é avaliado. Essas modalidades de pesquisa operacional sobre a vacinação ganharão maior importância, uma vez que os programas de vacinação enfrentam pressões cada vez maiores, principalmente no que diz respeito às dúvidas sobre a necessidade e a segurança da vacinação.

Melhoria do acesso 

No Canadá, a responsabilidade pelo atendimento à saúde cabe às províncias. Cada província e cada território decidem quais vacinas serão financiadas, o que gera confusão e injustiças no país. Consequentemente, o conjunto das vacinas recomendadas pelo NACI (National Advisory Committee on Immunization - Comitê Nacional Consultivo sobre Vacinação) não está acessível a todas as crianças e a todos os bebês, o que acarreta o risco de problemas como a surdez decorrente de meningite causada por infecção por  pneumococo. Portanto, é necessário um programa nacional de vacinação para nivelar o acesso a todas as vacinas recomendadas pelo NACI, protegendo todas as crianças canadenses contra as complicações potenciais das doenças que podem ser evitadas pelas vacinas.

Monitoramento da segurança das vacinas

Para otimizar a proteção das crianças, os profissionais envolvidos com programas de vacinação devem certificar-se de administrar as vacinas mais seguras, mais eficientes e mais adequadas, e no momento certo. Em 1994, o Health Canada implementou o Advisory Committee on Causality Assessment – ACCA (Comitê Consultivo sobre Avaliação de Causalidade) – um comitê de especialistas encarregado de monitorar a segurança das vacinas no Canadá, avaliando os casos de eventos graves ligados a vacinas registrados no país. O Health Canada financia também um sistema de vigilância ativa denominado IMPACT (Immunization Monitoring Program, ACTive – Programa de Monitoramento de Impacto) – um programa de vigilância ativa dos efeitos adversos associados às vacinas. Dirigida pela Sociedade Canadense de Pediatria, essa rede compreende 12 hospitais pediátricos no Canadá, que representam mais de 90% dos leitos de atendimentos pediátricos terceirizados e funcionam como hospitais locais para 45% da população pediátrica no país.

No âmbito internacional, a Organização Mundial da Saúde criou, em 1999, o Comitê Consultivo Global sobre Segurança de Vacinas com a tarefa de reagir com rapidez, eficiência e rigor científico diante de problemas de segurança ligados a vacinas que possam acarretar impacto mundial.

Política e infraestrutura 

As vacinas têm um potencial considerável para evitar o sofrimento e a morte de crianças. Esse potencial será cada vez maior à medida que novas vacinas sejam desenvolvidas e que outras sejam aperfeiçoadas. Entretanto, para que esse potencial seja alcançado, será preciso estabelecer cuidadosamente as recomendações necessárias para políticas de vacinação e uma infraestrutura de prestação do serviço que seja capaz de desempenhar os papéis essenciais dos programas de vacinação, a  saber: financiar a aquisição de vacinas, garantir a utilização de estratégias baseadas em evidências para elevar os níveis de cobertura, monitorar os níveis de cobertura e a segurança das vacinas e supervisionar as doenças que podem ser evitadas por elas.

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Leitura adicional

Quais são os mitos e as percepções erradas relacionadas à imunização?

O fato de que o surgimento de problemas neurológicos tenha ocorrido de forma coincidente pouco após o período em que as crianças receberam suas vacinas faz com que diversos pais e profissionais da saúde tenham o receio de que as vacinas possam ser a causa desses problemas. 

Entretanto, um número considerável de pesquisas demonstra que a maioria dos problemas neurológicos atribuídos às vacinas foi, na realidade, devido a outras causas. Por exemplo, diversos estudos realizados por 14 anos refutaram o vínculo entre o autismo e a vacina MMR (sarampo, rubéola e caxumba). A pesquisa também não demonstrou haver uma relação entre a vacina contra a coqueluche e a encefalopatia.  

Apesar disso, para muitos pais, a segurança das vacinas não é uma questão científica, mas emotiva, difícil de ser superada. Considerando o reaparecimento de algumas doenças devido ao baixo índice de vacinação, doenças que acreditávamos ter erradicado, ainda resta muito trabalho a ser feito para eliminar os perigosos mitos sobre as vacinas.

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