A depressão materna/perinatal/pós-parto pode ter graves repercussões sobre o desenvolvimento da criança, a saúde mental da mãe e o ambiente familiar. É importante conhecer as medidas de prevenção e de intervenção que podem ser implantadas para dar suporte às mães, às crianças e às famílias.
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Qual é sua importância?
Os cuidados atentos e sensíveis da mãe têm uma importância decisiva para o bom desenvolvimento da criança. Contudo, 13% das mulheres nos países desenvolvidos (e uma proporção mais alta nos países em desenvolvimento) vivenciam sintomas depressivos durante a gravidez e/ou após o parto. A depressão materna, também conhecida como depressão perinatal, engloba diversos transtornos do humor que se manifestam durante a gravidez e após o parto. As mães depressivas são mais suscetíveis de serem confusas, desleixadas e desligadas com seu filho. Essa parentalidade disfuncional é especialmente preocupante durante os primeiros anos de vida da criança, quando ela mais depende dos estímulos de sua mãe. O resultado é que as práticas parentais da mãe depressiva podem contribuir ou predispor a criança a diversos problemas precoces de desenvolvimento. A depressão materna é hoje considerada uma grande preocupação social, e intervenções são necessárias no intuito de prevenir ou diminuir seus efeitos negativos sobre o desenvolvimento das crianças.
O que sabemos?
Existe um consenso geral de que a depressão materna está associada a problemas desenvolvimentais da criança, inclusive transtornos socioemocionais, cognitivos e comportamentais.
Funcionamento socioemocional
Os filhos de mães depressivas são mais propensos a: 1) expressar um afeto negativo; 2) ter dificuldade em controlar sua raiva; 3) demonstrar um apego inseguro; 4) ter piores habilidades interpessoais; 5) vivenciar um nível de estresse mais alto.
Funcionamento cognitivo
Além disso, em geral, os filhos de mães depressivas: 1) mostram um desenvolvimento menos avançado da linguagem; 2) têm menos habilidades na escola; 3) têm uma autoestima mais baixa; e 4) manifestam outras vulnerabilidades cognitivas para a depressão ou outros transtornos.
Funcionamento comportamental
No plano comportamental, os filhos de mães depressivas se caracterizam por: 1) ter mais problemas de sono; 2) ser menos cooperativos; 3) ter dificuldade em controlar sua agressividade; 4) ser inativos. Eles correm também mais riscos de desenvolver comportamentos de interiorização (por exemplo, depressão) e de externalização (por exemplo, comportamentos agressivos) quando comparados com os filhos de mães não depressivas.
As crianças expressam esses problemas de desenvolvimento em níveis diferentes. O contexto familiar e as influências bidirecionais, como o estado de saúde e as características temperamentais da criança, podem diminuir ou piorar o impacto da depressão materna sobre o desenvolvimento da criança. Por exemplo, o envolvimento paterno pode reduzir o efeito negativo da depressão materna sobre os comportamentos de interiorização da criança. Inversamente, conflitos parentais predizem problemas de adaptação para as crianças de mães depressivas.
O que pode ser feito?
Para melhorar os resultados do desenvolvimento das crianças, as abordagens de prevenção e de intervenção devem se concentrar na melhoria da qualidade das interações entre a mãe e o bebê.
Como medida preventiva, é preciso educar os pais (especialmente os novos pais) dos efeitos benéficos de uma gravidez saudável. Deve-se enfatizar as competências eficazes, as boas práticas de educação dos filhos e a disciplina para prepará-los melhor para o seu papel de pais. As intervenções preventivas podem ser particularmente benéficas para as mulheres com antecedentes de depressão que pensam em ficar grávidas, com o objetivo de reduzir a possibilidade de depressão materna.
Atualmente, os resultados das pesquisas para melhorar a qualidade das interações entre a mãe e seu bebê apoiam as intervenções que fortalecem as competências parentais. As evidências sugerem que as visitas domiciliares de profissionais ou enfermeiras comunitárias melhoram a sensibilidade materna e o apego seguro das crianças. Da mesma forma, considerando que o envolvimento paterno pode reduzir o impacto da depressão materna sobre o funcionamento da criança, os outros membros da família devem também apoiar e encorajar a mãe.
Embora os métodos de intervenção tenham conseguido melhorias no que diz respeito ao desenvolvimento das crianças, é importante lembrar que existem grandes variações nos efeitos observados em crianças expostas à depressão materna. Nenhuma intervenção (por exemplo, as visitas domiciliares ou a terapia de família) tem os mesmos resultados em todas as crianças. Por isso, os formuladores de políticas devem valorizar a importância da flexibilidade em matéria de tratamentos e de políticas.
Leitura adicional

Como podemos ajudar as crianças cuja mãe sofre de depressão?
A prevenção é uma das maneiras mais eficazes de atenuar os problemas decorrentes da depressão materna.
Sessões de informação sobre os benefícios de uma gravidez saudável, sobre a adoção de boas práticas parentais e de uma disciplina saudável podem ajudar os novos pais a se preparar para os desafios apresentados pela educação de uma criança.
Existem diversos tipos de psicoterapias para tratar as mães que sofrem de depressão, entretanto, as abordagens que mais beneficiam a criança são aquelas que visam reforçar o vínculo de apego entre a mãe e a criança. Essas abordagens incluem os programas de melhoria das aptidões parentais e da sensibilidade materna, assim como as visitas domiciliares realizadas por enfermeiras ou outros visitadores.
Publicações
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