Agressividade em crianças pequenas. Serviços que demonstram eficácia na redução da agressividade
Carolyn Webster-Stratton, PhD
University of Washington, EUA
, Ed. rev. (Inglês). Tradução: abril 2010
Introdução
A agressividade na infância está aumentando – e em crianças cada vez mais novas.1 A progressão da agressividade em termos de desenvolvimento em crianças sugere que a propensão para agressão física e comportamento de oposição atinge um pico aos 2 anos de idade.2 Normalmente, a agressividade começa a se reduzir a cada ano à medida que a criança se desenvolve, e atinge um nível relativamente baixo antes do ingresso na escola (5 a 6 anos de idade). No entanto, em algumas crianças pequenas, os níveis de comportamento agressivo continuam altos e acabam resultando em diagnósticos de Transtorno Desafiador Opositivo (TDO) ou de Transtorno de Conduta (TC) precoce. Esses rótulos referem-se a um conjunto de comportamentos disruptivos e antissociais que incluem altas taxas de oposição, desafio e agressividade. Os estudos indicam que entre 7% e 20% das crianças preenchem os critérios de diagnóstico de TDO e/ou TC, e que essas taxas podem chegar a 35% em crianças de famílias de baixa renda dependentes de programas de bem-estar social.3
Questão
A pesquisa sobre prevenção e tratamento da agressividade tem importância fundamental porque o surgimento precoce de TDO/TC em crianças em idade pré-escolar é estável no decorrer do tempo, e parece ser o mais importante fator isolado de risco preditivo de comportamento antissocial em meninos e meninas adolescentes.4,5 Tem-se verificado repetidamente que particularmente o comportamento de agressão física, em crianças de apenas 3 anos de idade, prediz o desenvolvimento de delinquência juvenil violenta e de abuso de drogas na adolescência,6 bem como depressão e taxas de evasão escolar.7 Há alguma indicação de que, na ausência de intervenção, tendências agressivas precoces em crianças podem cristalizar-se por volta dos 8 anos de idade.8 A essa altura da vida, problemas de aprendizagem e comportamentais podem tornar-se menos suscetíveis de intervenção e ter maior probabilidade de evoluir para distúrbios crônicos.9 Uma vez que o tratamento da agressividade torna-se cada vez mais difícil e mais oneroso à medida que as crianças crescem, parece ser pragmático e eficaz, em termos de custo, oferecer tratamento e esforços de prevenção nos primeiros anos de vida e no período pré-escolar. Infelizmente, projeções recentes sugerem que a proporção de crianças que necessitam de serviços profissionais devido a comportamentos agressivos e que realmente os recebem fica abaixo de 10% no caso de crianças em idade escolar (essa proporção é ainda menor no caso de crianças em idade pré-escolar);10 e menos de 50% desse grupo são alvo de intervenções empiricamente validadas.11
Problemas
Fatores de risco relacionados à família, aos pais, a professores/escolas e à criança têm sido associados ao desenvolvimento de problemas de conduta em crianças pequenas. Baixa renda, baixo nível educacional, alto nível de estresse familiar, uniparentalidade, discórdia conjugal, depressão materna e abuso de drogas pelos pais são fatores que colocam a criança em risco particularmente alto de desenvolver problemas de comportamento agressivo. Comportamentos parentais e instrucionais inconsistentes, críticos, abusivos e pouco comprometidos também são fatores de risco importantes para o desenvolvimento e a manutenção de comportamentos agressivos de crianças em casa e na escola. Crianças com temperamento mais impulsivo, desatento e hiperativo frequentemente recebem menos estímulo e apoio, e são punidas por pais e professores mais frequentemente. Vivenciam também maior isolamento social e maior rejeição por parte dos colegas na escola. Para a criança, essas respostas de adultos e de colegas aumentam o risco de desenvolver agressividade crescente. Infelizmente, o risco de problemas contínuos de conduta e de agressividade parece aumentar exponencialmente com a exposição da crianças a cada fator adicional de risco.12
Contexto de pesquisas
A pesquisa passou a avaliar tratamentos que visam reduzir e prevenir o desenvolvimento de agressividade e promover competências sociais e emocionais em crianças pequenas. Esses esforços podem ser considerados também como estratégias para a prevenção do surgimento de delinquência, abuso de drogas e violência em idades posteriores. Os tratamentos têm focalizado diversas constelações de fatores de risco, tais como os apontados acima. Programas de capacitação de pais, que representam o conjunto mais extenso de evidências de pesquisas, foram planejados para contrabalançar os fatores de risco ligados aos pais e à família, ensinando aos pais estratégias disciplinares positivas e não violentas, e abordagens parentais de apoio que promovem competências sociais e emocionais e reduzem comportamentos agressivos. Uma segunda abordagem de tratamento consistiu em intervenções focalizadas na criança, planejadas para promover diretamente as competências sociais, emocionais e cognitivas das crianças, por meio do ensino de habilidades sociais apropriadas, resolução eficaz de conflitos, controle da raiva e linguagem emocional. Uma terceira abordagem foi a capacitação de professores para implementar estratégias eficazes de gestão da sala de aula, de forma a reduzir a agressividade na sala de aula e fortalecer competências sociais, emocionais e acadêmicas.
Embora existam muitas intervenções orientadas para esses fatores de risco, há relativamente poucos estudos sobre tratamentos bem planejados, com grupos de controle randomizados, focalizando crianças menores de 6 anos de idade que apresentam problemas de comportamento agressivo (TDO/TC). Além disso, é difícil encontrar avaliações de tratamentos de pais, crianças ou professores que tenham focalizado como critério principal de resultados a redução da agressividade (fator de risco reconhecidamente relacionado com delinquência posterior). Recentemente, têm surgido mais tratamentos multimodais que associam criança, pais, professores e intervenções de capacitação focalizadas na criança ou na sala de aula; diversos estudos sugeriram que manter o foco em dois ou mais fatores de risco leva a resultados mais consistentes para a criança.13,14
Questões-chave para a pesquisa
Tendo em vista o grande número de crianças pequenas com problemas de comportamento agressivo e delinquente, não seria importante avaliar os tratamentos mais eficientes, eficazes e com boa relação custo/benefício? Para quem e em que condições funcionam as intervenções voltadas aos pais, à criança ou à sala de aula, visando reduzir a agressividade e promover competência social? Serão necessárias todas essas abordagens, ou uma delas é suficiente para essa faixa etária? Quais os efeitos desses tratamentos no longo prazo? Existem fatores de risco relacionados à criança, à família ou à escola que restringem os resultados dessas intervenções?
Resultados de pesquisas recentes
O número de estudos de tratamentos de crianças diagnosticadas com TDO/TC é muito menor na faixa de idade pré-escolar do que para crianças em idade escolar. As avaliações realizadas sugerem que a capacitação de pais é o tratamento isolado mais eficaz para a redução da agressividade em crianças pequenas (2 a 5 anos de idade). Cerca de 2/3 das crianças com TDO/TC podem ser conduzidas à faixa normal de agressividade e de competências sociais, segundo medidas padronizadas, com resultados que se mantêm por de um a quatro anos. Estudos com grupos de controle randomizados apresentaram resultados significativos em quatro programas dirigidos aos pais: Parent-child Interaction Therapy (Terapia de Interação Pais-Filhos),15 Cope (Aprendendo a enfrentar),16Incredible Years (Anos Incríveis),17 e Helping the Noncompliant Child (Ajudando a criança rebelde).18 Quanto a tratamentos orientados para habilidades sociais, controle emocional e resolução de conflitos, apenas dois estudos com grupos de controle nessa faixa de idade reduziram a agressividade e/ou promoveram competências sociais e emocionais em crianças diagnosticadas com problemas de conduta (isto é, Incredible Years’ Dinosaur Curriculum).13,14,19,20 Portanto, a capacitação de crianças mostra-se promissora, porém mais estudos são necessários. Três programas de capacitação de professores reduziram a agressividade entre colegas em sala de aula em comparação com grupos de controle. Entre esses programas estão CLASS,21PASS22 e Incredible Years Teacher Training.23,24 Outros programas de capacitação de professores com crianças em idade escolar (6 a 12 anos) apontaram melhoras significativas no comportamento agressivo (por exemplo, Referência 25).
Conclusões
Os anos pré-escolares parecem ser um período crucial tanto para a redução como para a cristalização da agressividade. Infelizmente, em sua maioria, os programas de intervenção relativos à agressão são introduzidos na idade escolar e na adolescência. Esses programas chegam tarde demais no processo da agressividade relacionada ao desenvolvimento. Na verdade, uma vez que a socialização da agressão ocorre durante os anos pré-escolares, seria de esperar que esses programas tivessem maior impacto sobre as crianças nesse período. Os tratamentos empiricamente validados para crianças pré-escolares com problemas de comportamento agressivo que foram mencionados acima sugerem que, por meio do trabalho com pais, professores e as próprias crianças, competências sociais e emocionais podem ser desenvolvidas, e o surgimento precoce de agressão pode ser significativamente reduzido, com resultados sustentáveis. Portanto, a trajetória de problemas precoces de comportamento que conduzem à delinquência na adolescência e a comportamentos antissociais na idade adulta pode ser corrigida por meio de intervenções precoces.
Implicações
Com esse objetivo, devem ser tomadas as seguintes medidas:
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Investir em intervenções empiricamente validadas de capacitação de pais, que comprovadamente reduzem a agressividade em crianças menores de 6 anos de idade. Colocar essas intervenções à disposição de populações de alto risco e de pais de crianças que apresentam problemas de comportamento agressivo.
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Garantir que todas as crianças que frequentam creches e programas de educação infantil tenham um professor ou cuidador capacitado em estratégias de gestão de sala de aula e de habilidades de relacionamento que sejam fundamentadas em pesquisas.
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Para crianças de baixa renda que frequentam creches ou programas de educação infantil, focalizar intervenções baseadas em sala de aula, empiricamente validadas e planejadas para a promoção de habilidades sociais e emocionais.
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Para crianças de alto risco com problemas de comportamento agressivo, atentar para intervenções empiricamente validadas que focalizem múltiplos fatores de risco, incluindo pais, professores e crianças.
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Para citar este artigo:
Webster-Stratton C. Agressividade em crianças pequenas. Serviços que demonstram eficácia na redução da agressividade. Em: Tremblay RE, Boivin M, Peters RDeV, eds. Tremblay RE, ed. tema. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line]. https://www.enciclopedia-crianca.com/agressividade-agressao/segundo-especialistas/agressividade-em-criancas-pequenas-servicos-que. Atualizada: Setembro 2005 (Inglês). Consultado em 4 de outubro de 2024.
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