Estilos de práticas parentais e desenvolvimento social da criança


University of Pennsylvania, EUA, National Institute of Child Health and Human Development, EUA
(Inglês). Tradução: dezembro 2011

Versão em PDF

Introdução

Durante os primeiros anos de vida da criança – que muitos consideram como um período único no desenvolvimento humano –, os pais têm uma importância especial. À medida que conduzem seus filhos pequenos da dependência total em direção às primeiras etapas da autonomia, o estilo de cuidados dos pais pode ter repercussões imediatas e duradouras sobre o funcionamento social de seus filhos em áreas como desenvolvimento moral, desenvolvimento social e sucesso escolar. Para garantir o melhor resultado possível para seus filhos, os pais devem enfrentar o desafio de encontrar um equilíbrio entre, de um lado, as suas exigências em relação à maturidade e disciplina, que permitem a integração da criança ao sistema familiar e social; e de outro, a manutenção de um ambiente de afeto, responsividade e apoio. Quando a conduta e a atitude dos pais não refletem um equilíbrio entre esses dois elementos durante os anos pré-escolares, a criança pode vir a enfrentar vários problemas de adaptação. Quais são as práticas parentais que melhor propiciam esse equilíbrio? 

Do que se trata

É provável que o número de opiniões sobre o que constitui «boas práticas parentais» seja igual ao número de pessoas questionadas. Frequentemente, pais “de primeira viagem” recebem de seus próprios pais, de especialistas, de outros pais e da cultura popular conselhos e orientação sobre como cuidar dos seus filhos. Desenvolver um estilo parental adequado durante os primeiros anos da vida de uma criança representa um desafio para esses pais, principalmente quando não há consenso entre as diversas fontes de informação. A pesquisa sobre práticas parentais eficazes pode ajudá-los a encontrar o equilíbrio adequado entre a sensibilidade e o controle. 

Problemas 

Um dos principais obstáculos da pesquisa sobre os sistemas familiares é a questão da relevância: é possível para os pesquisadores tirar conclusões sobre um estilo de práticas parentais que sejam aplicáveis a despeito de diferenças culturais e socioeconômicas? Muitas pesquisas indicam que o estilo de prática parental autoritário e flexível é adequado para uma criança branca de classe média que vive em uma família nuclear, mas talvez não seja conveniente para outras crianças que crescem em circunstâncias e situações diferentes. Ser flexível e dar liberdade às crianças podem ter bons resultados quando elas vivem em áreas seguras, nas quais seus pares são menos propensos a adotar comportamentos perigosos; em vizinhanças de alto risco, entretanto, pode ser necessário um controle parental mais rigoroso. Antes que formuladores de políticas e médicos estabeleçam diretrizes ou façam recomendações sobre o comportamento parental adequado, é preciso avaliar até que ponto as conclusões de pesquisas podem ser aplicadas aos diferentes grupos étnicos, raciais, culturais e socioeconômicos. Além disso, os resultados positivos e negativos associados aos diferentes estilos de práticas parentais no caso de crianças em idade pré-escolar não se aplicam necessariamente às crianças em etapas mais avançadas do desenvolvimento. Os resultados no longo prazo também devem ser levados em conta na concepção das políticas e na orientação aos pais.  

Contexto de pesquisa 

Grande parte dos estudos contemporâneos sobre estilos de práticas parentais desenvolve conceitos propostos por Diana Baumrind em sua pesquisa formativa realizada na década de 1960, que descreveu um sistema de classificação em três grupos. A partir do advento desse tipo de pesquisa – geralmente conduzida por meio de observações diretas, questionários e entrevistas com os pais e as crianças –, a classificação passou a basear-se em duas grandes dimensões de estilos parentais: controle/exigências (exigências que os pais fazem em relação à criança, ligadas a maturidade, supervisão e disciplina), e responsividade (ações que estimulam a individualidade, a autorregulação e a autoafirmação, por meio de uma atitude harmoniosa e apoiadora). Os pesquisadores contemporâneos normalmente classificam os estilos parentais em quatro grupos: autoritário, caracterizado por alto nível de controle e baixo nível de responsividade; tolerante e permissivo, caracterizado por baixo nível de controle e alto nível de responsividade; autoritativo, caracterizado por altos níveis de controle e responsividade; e negligente, caracterizado por falta tanto de controle como de responsividade. 

Resultados de pesquisas recentes 

A pesquisa tem geralmente associado o estilo parental autoritativo – que caracteriza pais que mantêm um equilíbrio entre exigências e responsividade – a maiores competências sociais na criança. Assim, crianças que têm pais autoritativos são mais hábeis nos primeiros relacionamentos com outras crianças, têm menor envolvimento com drogas na adolescência e gozam de maior bem-estar afetivo no começo da idade adulta. Embora aparentemente os estilos autoritário e permissivo representem extremos opostos do espectro das práticas parentais, nenhum desses dois estilos foi relacionado a resultados positivos. Isso ocorre, provavelmente, porque ambos minimizam as oportunidades da criança para aprender a lidar com o estresse. O excesso de controle e de exigências pode limitar as oportunidades da criança de tomar suas próprias decisões ou de comunicar suas necessidades aos pais; por outro lado, crianças que crescem no seio de uma família permissiva/indulgente podem carecer da orientação e da estrutura necessárias para desenvolver o senso moral e a capacidade de fazer escolhas adequadas. A pesquisa revelou também associações significativas entre os estilos parentais através das gerações: aparentemente, práticas parentais ruins «são transmitidas» tanto quanto boas práticas parentais. 

Ainda que esses tipos de resultado pareçam sólidos, sua aplicabilidade através de diferentes ambientes e diferentes culturas é discutível. Muitos estudos concentram-se em famílias e crianças brancas de classe média, mas é possível que crianças de outras origens étnicas, raciais, culturais ou socioeconômicas se saíssem melhor com outros tipos de orientação. As controvérsias recentes dizem respeito aos efeitos dos diferentes estilos parentais sobre o desenvolvimento social da criança nas famílias com baixo nível socioeconômico (NSE), em situação de alto risco e que vivem em bairros carentes. Enquanto alguns estudos sugerirem a necessidade de estilos parentais mais autoritários em meios de alto risco, outros mostram os benefícios contínuos do estilo parental autoritativo. Outro elemento importante dessas pesquisas é a ideia de que, na verdade, as práticas parentais poderiam fazer «menos diferença» nas famílias com baixo nível socioeconômico (NSE), devido ao maior peso de fatores ambientais, tais como dificuldades financeiras e taxas de criminalidade mais elevadas. 

As diferenças étnicas e culturais também devem ser levadas em consideração no estudo dos efeitos dos estilos parentais sobre o desenvolvimento social da criança. É difícil fugir de pressões sociais que julgam certos estilos parentais como sendo os melhores – normalmente aqueles que refletem a cultura dominante. O estilo parental autoritário, que geralmente é ligado a resultados sociais menos positivos para a criança, tende a prevalecer em meio a minorias étnicas. Em famílias asiáticas, esse estilo parental é relacionado a resultados sociais positivos e ao sucesso escolar, em parte devido aos objetivos e à educação dos pais, específicos das famílias de origem asiática. Ainda que a qualidade das práticas parentais inevitavelmente se ajuste, melhore ou piore à medida que as crianças crescem e que os pais encontram novos desafios, os estilos parentais permanecem relativamente estáveis durante longos períodos de tempo. 

Conclusões 

A informação e a educação sobre estilos parentais adequados e o estabelecimento precoce de práticas eficazes são importantes para a adaptação social e o sucesso da criança. Em muitas situações, um estilo parental autoritativo, flexível e afetuoso é o mais benéfico para o desenvolvimento social, intelectual, moral e emocional da criança. No entanto, a pesquisa sobre interações pais-filhos deve ser ampliada continuamente, para avaliar os resultados não só em uma maior diversidade de grupos étnicos, raciais, culturais e socioeconômicos, mas também em meio a crianças de diferentes faixas etárias. Desse modo, os benefícios da pesquisa poderão favorecer famílias em todos os tipos de situação. 

Implicações para políticas e serviços  

Durante os primeiros anos de vida, o desenvolvimento da personalidade, do senso moral, da capacidade de definir objetivos e resolver problemas é crucial e incomparável a qualquer outro momento da vida. É importante que os políticos e os prestadores de serviços de apoio à família ajudem os novos pais a adotar as técnicas e estratégias parentais apropriadas para garantir que as crianças recebam a melhor orientação possível para que sejam bem-sucedidas mais tarde. No entanto, a pesquisa sobre a ampla aplicabilidade de certos tipos de técnicas parentais deve prosseguir, para que os formuladores de políticas possam adequar a orientação e as diretrizes no sentido de otimizar os resultados para todas as crianças.  

Referências

  1. Bornstein MH. Handbook of Parenting. 2nd ed. Mahwah, NJ: Erlbaum; 2002.
  2. Darling N, Steinberg L. Parenting style as context: An integrative model. Psychological Bulletin 1993;113(3):487-496.
  3. Grusec JE, Hastings PD. Handbook of socialization: Theory and research. New York, NY: Guilford Press; 2006.
  4. Maccoby EE, Martin JA. Socialization in the context of the family: Parent-child interaction. In: Hetherington EM, ed. Socialization, personality, and social development. New York, NY: Wiley; 1983:1-101. Mussen PH, ed. Handbook of child psychology. 4th ed; vol 4.

Para citar este artigo:

Bornstein L, Bornstein MH. Estilos de práticas parentais e desenvolvimento social da criança. Em: Tremblay RE, Boivin M, Peters RDeV, eds. Tremblay RE, ed. tema. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line]. https://www.enciclopedia-crianca.com/habilidades-parentais/segundo-especialistas/estilos-de-praticas-parentais-e-desenvolvimento-social. Publicado: Janeiro 2007 (Inglês). Consultado em 29 de abril de 2024.

Texto copiado para a área de transferência ✓