Investir nos mais jovens


Universidade de Chicago, EUA 
, 2a ed. (Inglês). Tradução: novembro 2010

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A aprendizagem começa na primeira infância, muito antes do início da educação formal, e continua pela vida afora. A aprendizagem inicial viabiliza a aprendizagem posterior e sucessos precoces criam sucessos posteriores, assim como insucessos iniciais resultam em insucessos futuros. Sucessos ou insucessos neste estágio constróem os alicerces para sucessos ou insucessos na escola, que por sua vez levam a sucessos ou insucessos na aprendizagem pós-escolar. Estudos recentes sobre investimento na primeira infância mostram resultados notáveis e indicam que os primeiros anos são importantes para a aprendizagem inicial. Ademais, intervenções de alta qualidade na primeira infância têm efeitos duradouros sobre a aprendizagem e a motivação. Como sociedade, não podemos nos dar ao luxo de adiar o investimento nas crianças para quando forem adultos, nem podemos aguardar que atinjam a idade escolar, quando poderá ser tarde demais para intervir.

Entretanto, as políticas atuais para educação e capacitação profissional baseiam-se em concepções fundamentais equivocadas sobre como são construídas as competências socialmente úteis incorporadas nas pessoas. Ao focalizar as habilidades cognitivas quantificadas pelos resultados de testes de QI, essas políticas desconsideram a importância crucial de competências sociais, autodisciplina e uma variedade de habilidades não cognitivas que sabidamente determinam o sucesso na vida. Além disso, essa preocupação com cognição e “gênios” acadêmicos, avaliados por resultados de testes que desconsideram adaptabilidade social e motivação, leva a um forte viés na avaliação de intervenções em capital humano.    

Outro erro comum na análise de políticas de capital humano é a pressuposição de que as competências são fixadas em idade muito precoce. Essa concepção estática de capacidade contraria um extenso corpo de pesquisas da literatura sobre desenvolvimento infantil e, mais especificamente, pesquisas que demonstram que, nos primeiros anos de vida, capacidades básicas podem ser alteradas. Uma visão mais apropriada de “capacidade” (ou melhor, “capacidades”) é que elas se desenvolvem em uma variedade de situações de aprendizagem, e que a capacidade inicial, por sua vez, promove a aprendizagem futura. 

Falta também às discussões atuais sobre políticas para educação e capacitação alguma consideração sobre prioridades ou reconhecimento da necessidade de priorização. Infelizmente, em tempos de orçamentos governamentais apertados, é impraticável pretender um programa ativo de investimentos para todos. A verdadeira questão é como usar sabiamente os recursos disponíveis. As melhores evidências recomendam o que prescrevem as políticas: investir nos mais jovens e melhorar o aprendizado básico e as habilidades de socialização. 

Nota

Adaptado do artigo The real question is how to use the available funds wisely. The best evidence supports the policy prescription: Invest in the very young, publicado pelo Ounce of Prevention Fund e pela Harris School of Public Studies da Universidade de Chicago, 2000. Este artigo foi aprovado por Dr. Heckman. 

Para citar este artigo:

Heckman JJ. Investir nos mais jovens. Em: Tremblay RE, Boivin M, Peters RDeV, eds. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line]. https://www.enciclopedia-crianca.com/importancia-do-desenvolvimento-infantil/segundo-especialistas/investir-nos-mais-jovens. Atualizada: Fevereiro 2007 (Inglês). Consultado em 19 de abril de 2024.

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