O impacto da nutrição nos períodos pré-natal e pós-natal inicial sobre o desenvolvimento da criança: Comentários sobre Lumey e Susser, Innis e Atkinson
Lise Dubois, RDt, PhD
University of Ottawa, Canadá
(Inglês). Tradução: outubro 2011
Efeitos de longo prazo da nutrição pré-natal e no início da vida sobre repercussões psicossociais na vida adulta. Comentários sobre o artigo de Lumey e Susser.
Introdução
O artigo de Lumey e Susser discute a pesquisa sobre os impactos de longo prazo da nutrição pré-natal e pós-natal, com foco nas consequências psicossociais e comportamentais na vida adulta. Trata-se de uma questão importante de saúde e bem-estar para a população em geral. A nutrição inadequada nos primeiros meses de vida, durante a gravidez ou logo após o parto pode afetar o desenvolvimento do cérebro deixando marcas na vida adulta.1 Pesquisas sobre desigualdades sociais e de saúde da população evidenciam como as circunstâncias iniciais de vida são significativas no longo prazo.2,3 São pesquisas importantes, porque identificam fatores que provocam problemas de saúde e bem-estar, possibilitando intervenções tão cedo quanto possível para evitar o surgimento desses problemas.
Pesquisas e conclusões
As interpretações dos autores baseiam-se na literatura que apresentam. A questão não foi extensivamente estudada, e a comparabilidade dos resultados é problemática. É sempre arriscado tentar tirar conclusões ao associar constatações de estudos com indivíduos que tiveram experiências de fome, de estudos em países em desenvolvimento onde a desnutrição é generalizada e de estudos mais recentes com famílias pobres em países desenvolvidos. Portanto, estou de acordo ser importante planejar estudos que controlem as variáveis em jogo nessas relações. Não concordo que os estudos realizados até o momento sugiram que a desnutrição ou o crescimento provavelmente não estão envolvidos na relação investigada. Por exemplo, estudos clínicos sobre anemia mostram que crianças anêmicas têm dificuldade de concentrar-se na escola e tendem a ser hiperativas.4,5,6 Da mesma forma, não podemos desconsiderar os efeitos do estresse em meio a famílias pobres que sofrem com a escassez de alimentos.7
Implicações para políticas e serviços
Concordo com as conclusões dos autores. Crianças que vivem em condições precárias que podem afetar negativamente a nutrição de suas mães durante o período pré-natal e sua própria nutrição no período pós-natal têm também outras necessidades – físicas, emocionais e psicológicas. A simples suplementação nutricional para as crianças, sem levar em conta outros deficits do ambiente familiar, seria eticamente inaceitável. Sabemos, por exemplo, que famílias pobres carentes de alimentos vivenciam situações altamente estressantes que podem restringir a capacidade dos pais de responder às inúmeras outras necessidades de estimulação de seus filhos. Programas de apoio que têm como alvo mulheres grávidas pobres devem focalizar não apenas suas necessidades físicas e nutricionais, mas também questões de baixa autoestima, falta de autonomia e estresse – realidades cotidianas para indivíduos que têm que mendigar comida ou que vivem com medo de não ter o que comer.8 Ao mesmo tempo, crianças que recebem estimulação adequada mas que são mal nutridas também sofrem determinados deficits que afetam seu status nutricional, além dos efeitos da fome e da privação alimentar. Crianças negligenciadas que são alimentadas irregularmente adaptam-se a essa condição ignorando os sinais fisiológicos de fome e saciedade e, no longo prazo, acabam por desenvolver distúrbios de alimentação. É evidente que a suplementação nutricional para famílias necessitadas deve ser acompanhada por apoio psicossocial e econômico, e vice-versa.
Nutrição e seu impacto sobre o desenvolvimento psicossocial da criança: bebês prematuros. Comentários sobre o artigo de Innis.
Introdução
A autora aborda a relação entre nutrição e desenvolvimento infantil em meio a crianças prematuras. Trata-se de um tema importante uma vez que crianças prematuras apresentam problemas alimentares e perfis de crescimento diferentes dos de outros bebês. Para compensar deficiências de crescimento que podem ter sequelas mais ou menos permanentes para essas crianças, é preciso compreender o papel desempenhado pela nutrição. A proporção de bebês prematuros que sobrevivem vem aumentando regularmente graças aos avanços tecnológicos e médicos no atendimento à infância. É imperativo que encontremos formas melhores de lidar com os problemas que serão enfrentados pelo número crescente de prematuros ou bebês de baixo peso que sobrevivem.
Pesquisas e conclusões
As interpretações da autora referem-se principalmente ao aspecto fisiológico do desenvolvimento infantil em suas relações com a nutrição. Os estudos mencionados não abordam outros aspectos interferentes de nutrição, parto prematuro e baixo peso ao nascer. Por exemplo, outros fatores – como tabagismo da mãe durante a gravidez, que está positivamente e progressivamente associado com pobreza – podem influenciar as deficiências de desenvolvimento cognitivo e até mesmo deficiências de crescimento.9,12 Em ambientes menos favorecidos, onde a comida é escassa e de má qualidade, a carência de alimentos também pode influenciar o baixo desempenho das crianças quando chegam à idade escolar em comparação com o desempenho de crianças nascidas a termo. Além disso, em meio à determinada população, crianças que apresentaram baixo peso ao nascer tendem a ganhar mais peso no primeiro ano de vida em comparação com crianças com maior peso ao nascer.13,14 Essa “recuperação” de peso por meio da qual crianças BPN acabam por apresentar maior peso do que as demais com um ano de idade é inconsistente com os resultados apresentados pela autora.
Implicações para políticas e serviços
A autora não apresenta sustentação suficiente para suas implicações. Considera apenas o aspecto econômico – ou seja, os custos das intervenções para essas crianças. Há implicações individuais e sociais que deveriam ter sido mencionadas. Por exemplo, crianças que sofrem deficits cognitivos são menos propensas a ter sucesso na escola e a alcançar posições sociais mais elevadas na vida adulta, com implicações previsíveis para a saúde, uma vez que posição social está positivamente e progressivamente associada ao status de saúde e à expectativa de vida.2 Há também questões éticas que precisam ser colocadas neste tipo de abordagem. Não é necessário dizer que pais que estão esperando um bebê querem todo o atendimento possível para manter seu filho ou sua filha vivos, caso nasçam prematuramente; portanto, independentemente do custo, é preciso enfrentar as implicações mais amplas da utilização de tecnologias que possibilitam a sobrevivência de crianças que virão a vivenciar uma variedade de problemas.
Nutrição e seu impacto no desenvolvimento psicossocial da criança: perspectivas para bebês prematuros. Comentários sobre o artigo de Atkinson.
Introdução
Este artigo examina a relação entre nutrição nos primeiros meses de vida e desenvolvimento infantil. Alguns estudos realmente constataram uma relação entre aleitamento materno e desenvolvimento subsequente das crianças. Não está claro se os componentes do leite materno fazem ou não diferença em si e por si mesmos (como elementos essenciais para o desenvolvimento) ou se a diferença resulta de outras características não nutricionais associadas ao aleitamento materno. Essa discussão é importante para a promoção do aleitamento materno e para o desenvolvimento de produtos de melhor qualidade (leite em pó para bebês) para crianças que não são amamentadas ao seio.
Pesquisas e conclusões
Concordo com as interpretações da autora. O leite materno efetivamente contém substâncias que podem desempenhar um papel no desenvolvimento de crianças prematuras, e precisamos continuar a defender o aleitamento materno como um comportamento maternal que apresenta também outros benefícios. No entanto, as constatações dos estudos são contraditórias, uma vez que estão baseados em diferentes protocolos de pesquisa que não fornecem um quadro contínuo. É necessária uma descrição melhor da relação entre leite materno e desenvolvimento de crianças prematuras, baseada em estudos mais padronizados que isolem o efeito do leite materno do efeito de aspectos psicossociais e econômicos relacionados.
Implicações para políticas e serviços
As implicações para políticas descritas pela autora apresentam uma perspectiva ampla que inclui saúde e bem-estar das crianças no longo prazo. As implicações para o desenvolvimento de políticas e de programas de nutrição também são importantes. Por exemplo, as recomendações sobre aleitamento materno são importantes para crianças prematuras e com baixo peso ao nascer. Se desenvolver produtos que compensem as deficiências apresentadas por crianças prematuras é importante, trabalhar para evitar o nascimento de crianças prematuras e/ou com baixo peso na população é igualmente essencial, principalmente considerando que tais nascimentos continuam a ser mais frequentes em meio a famílias socioeconomicamente menos favorecidas, que atribuem menor importância ao aleitamento materno.13
Referências
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Para citar este artigo:
Dubois L. O impacto da nutrição nos períodos pré-natal e pós-natal inicial sobre o desenvolvimento da criança: Comentários sobre Lumey e Susser, Innis e Atkinson. Em: Tremblay RE, Boivin M, Peters RDeV, eds. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line]. https://www.enciclopedia-crianca.com/nutricao-na-gravidez/segundo-especialistas/o-impacto-da-nutricao-nos-periodos-pre-natal-e-pos-natal. Publicado: Abril 2004 (Inglês). Consultado em 13 de dezembro de 2024.
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